O autor brasileiro é a solução

30/09/2015 2701 visualizações

Por Carlos Andreazza

Quando, em maio de 2012, definimos o projeto de investimento consistente – perene – em autores nacionais de não ficção, tínhamos certeza de que publicaríamos para um leitor seguro, certo, aquele carente de títulos que tratassem das grandes questões brasileiras, especialmente se abordadas por um olhar original, que fugisse do senso comum e do politicamente correto para dar campo ao contraditório, ao dissenso. Havia – era evidente – demanda reprimida; mas não imaginávamos que tão poderosa. Grandes ensaios político-filosóficos, reportagens de fôlego, biografias não autorizadas. O sucesso foi imediato. São tantos os exemplos. Desnecessário é listá-los.

(Não posso, contudo, deixar de registrar que é tal hoje a nossa posição que somos pautados pelos leitores, parceiros fiéis, que nos escrevem para sugerir projetos e escritores – e é difícil conceber melhor cenário para o livre exercício da edição.)

A Record tem a tradição, o know-how, de publicar autores nacionais. E nossos editores estão aqui numa verdadeira escola – a de trabalhar com alguns dos maiores ficcionistas do Brasil –, formadora de muitos entre os melhores profissionais do mercado. Isso explica o modo natural, sem rupturas, com que transformamos a editoria de não ficção, cuja produção em 2012 era 80% dedicada a títulos estrangeiros, numa marca reconhecida nacionalmente hoje como um dos centros irradiadores do debate público no Brasil.

Sem abrir mão de lançar livros estrangeiros de grande relevância – o que também é cultura fundamental da Casa (estão aí, apenas recentemente, os muito bem-sucedidos exemplos de Roger Scruton, Antony Beevor, Milton Friedman, Simon Singh, Temple Grandin, entre outros) –, creio que alcançamos, ao longo desses três anos e pouco, um equilíbrio consistente com o que deseja o leitor brasileiro, e que resultará, ao fim de 2015, em termos cerca de 70% de nossa produção não ficcional dedicada ao escritor nacional.

E isso sem falar nos autores literários, dos quais teremos lançado, ao final do ano, 32 títulos, 25 dos quais inéditos. Aqui, e agora, uma semente plantada em janeiro de 2014 – e com frutos a serem colhidos pelo menos até 2017 – começa a gracejar: o investimento forte em jovens escritores (em que a valorização do Prêmio Sesc é peça-chave), inéditos ou editados por editoras de menor alcance, sobretudo de fora do eixo Rio-SP, resulta já em lançamentos importantes, com boas vendas e notável movimento de crítica, cenário em que despontam nomes recentemente publicados como Alexandre Marques Rodrigues, Débora Ferraz, Igor Gielow, Adrilles Jorge, Carlos Henrique Schroeder, Vivianne Geber, Marcos Peres, Rafael Gallo, Henrique Rodrigues e Reginaldo Pujol Filho. Nenhuma outra grande editora do Brasil investe tanto em autores brasileiros jovens e estreantes – de ficção e de não ficção – quanto a Record. E vem muito mais por aí.

Este momento de crise, com dólar disparado, e em que não há horizonte para calmaria, apenas ratifica o acerto da escolha estratégica – feita, repito, em 2012, sem açodamento – por dirigir a prioridade de nossa não ficção ao autor brasileiro e à formação e fidelização de público leitor. Os desafios de 2016 serão imensos, ainda maiores que os de 2015; mas estamos preparados e otimistas.

(foto de Guito Moreto)